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Dois irmãos, duas paixões: Gémeos dão vida aos velhos ofícios na Covilhã

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JF ON

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Жыл бұрын

Manuel, sapateiro, e José, alfaiate, partilham a idade desde sempre, a idade e a rua onde, agora, moram os últimos traços dos seus ofícios. São poucos os metros que separam as duas artes na zona histórica da cidade.
Aos 83 anos todos lhes reconhecem a vivacidade de uns jovens que não dão pelo tempo passar. Se calhar, são mesmo os ofícios que praticaram que lhes dão este vigor. É na estrada do lar de São José, mesmo no centro antigo da cidade, que encontra, no número 209, José Mendes na sua antiga casa ainda a coser fatos. E numas casas mais adiante reside o seu gémeo, Manuel Mendes, na casa onde mora com a esposa e lhe ocupa a sala com sapatos e vernizes.
Normalmente, explica José, os pais é que escolhiam o que os filhos iam ser e no caso dele acertaram em cheio. Foi para alfaiate e teve aí uma vida cheia de felicidade. “Uma apredizagem boa”, como diz. Entre as costuras ainda descobriu o amor da sua vida e já lá vão quase 50 anos.
Já para Manuel o caso não foi o mesmo, já sabia o que queria ser. Não foram precisas indicações do pai, mas sim convencé-lo a deixá-lo ser o que queria - sapateiro. Ganhou a inspiração num tio que, nas suas palavras, “era um senhor” e decidiu replicar-lhe o destino. Uma das ferramentas desse tal tio, já velhinha, ainda ocupa um espaço na caixa de instrumentos de Manuel, uma homenagem e uma memória de que os velhos tempos não se vão embora depressa.
Quem é da Covilhã, ou quem passou uns dias na cidade, já se terá cruzado com o senhor José com certeza. Faz questão de andar sempre aprumadinho, nó da gravata bem feito e colete apertado ou não fosse a sua profissão para tal. É coisa de personalidades também. Pelo menos para o seu gémeo Manuel, nem faria sentido ser de outra maneira. Cada um com o ofício que parece ter sido talhado só para si. Manuel acha-se “mais bruto” e que a arte de sapateiro lhe cai melhor, mas a José, assume, fica-lhe melhor a de alfaite, mais “cuidada e de menino”.
Se há algo que ambos têm em comum é considerarem-se artistas, artistas que já raramente se fazem hoje em dia. O que aprenderam,já não é ensinado como era antes. Mesmo quando a Covilhã se industrializava e a tecelagem absorvia todos os corpos da cidade, estes continuaram a trabalhar em oficinas mais pequenas até se tornarem independentes.
A independência que os ofícios lhes deram é algo que os marcou; acima de tudo foram livres para fazerem o que queriam e quando queriam e, chegados a esta idade, é algo que prezam cada vez mais. Talvez seja por isso que não conseguem largar agora o trabalho, não para ganhar mais qualquer coisa ao final do mês, mas, antes, para encher a alma. Podem construir e reconstruir a maneira de fazer sapatos ou os fatos, mas os irmãos ainda hão de conseguir dar um jeito ao que precisar de ser arranjado.
Nasceram juntos e, mesmo agora, as 83 anos, gravitaram outra vez um junto do outro. Manuel improvisou na sua sala uma oficina para continuar a dedicar a vida aos sapatos e é nesta casa azul com uma das portas entreaberta que assinala que o podem vir “chatear”. Esta é a localização de Manuel, mas não se tem de procurar muito para encontrar a sua outra metade, basta descer um bocadinho e na mesma estrada o procedimento repete-se - porta entreaberta, covite a entrar.
Toda a família lhes reconhece o bom humor, mas é como Manuel explica: “Há quem o tenha e há quem não o tenha.” E no caso destes irmãos foram presentiados com ele. Um presente que distribuiram pelo resto da família. Mas nesta vida cheia que já viveram; até hoje não há nada que se compare ao laço que os une. "É uma amizade que nem deve de haver em mais lado nenhum, crescemos na mesma barriga, não há nada como isso.” Com todas estas demonstrações de amor entre os gémeos pode ser fácil pensar que o irmão mais velho é quase excluído desta sociedade secreta a dois, mas não é verdade. Há um carinho especial quando falam do seu irmão. Foi um artista prendado enquanto carpinteiro, guardando todas as ferramentas pela casa como num museu, seguindo as pisadas do pai.
"A humildade e a educação leva-nos a todo o lado" é um dos lemas que os irmãos vão repetindo nas suas histórias e é essa mesma humildade que é tão característica dos dois. O alfaiate, que parece um João da Ega da Covilhã, sempre bem vestido, não recusa dois dedos de conversa com ningúem e o sapateiro que, afinal, também era músico, mais reservado, não gosta de se gabar. Mas quando na Covilhã o fado era quase corriqueiro, de tão ouvido e apreciado que era, o sapateiro era um dos preferidos das gentes para se ouvir no desgarrar da guitarra.

Пікірлер: 1
@prof.antonioarnautduarte
@prof.antonioarnautduarte Жыл бұрын
Esses três irmãos fazem parte da minha meninice. Grande abraço amigo
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JF ON
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