Vigésimo sétimo episódio do quadro PRECONCEITO. Nele, duas pessoas que nunca se viram na vida tentam adivinhar características relevantes uma sobre a outra usando como base apenas o estereótipo. Dessa vez, chamamos o médico Alessandro Loiola, cético sobre as vacinas da Covid, para conversar com a Dra. Luciana Leite, diretora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan.
Para ajudar a esclarecer melhor essa questão, pedimos também a ajuda de um segundo médico, que nos encaminhou o depoimento abaixo:
"Em relação à segurança das vacinas de vetores virais, desde os estudos pré clínicos foram escolhidas vacinas cujos vetores (vírus modificados) não fossem capazes de se replicar.
Um vírus consiste em uma parte de base proteica (cápsula) que serve para proteger o material genético do vírus e ajudar na infecção celular.
O que é determinante para a função patológica que o vírus exerce é o seu material genético. Mais especificamente quais proteínas serão decodificadas por ele. Tipicamente, dentre as proteínas virais, há proteínas funcionais (que regulam a replicação, por exemplo, e que podem ter função biológica dentro das células do hospedeiro) e as proteínas que irão compor as novas cápsulas virais que permitirão aos novos vírus saírem das células e infectarem novas células no hospedeiro e em novos hospedeiros.
Exatamente para evitar que esses vetores virais, que servem como carregadores de material genético para vacinas, se repliquem, os vírus que deram origem a eles são depletados de seu material genético original, ficando praticamente a cápsula. E nela é introduzido o novo material genético de interesse. No caso das vacinas contra Covid, uma sequência de DNA cujo produto de transcrição é a proteína S do SARS-CoV-2. E é importante notar aqui que esses novos “vírus” - a vacina - não são capazes de se replicar. Portanto não serão transmitidos para outras pessoas e/ou outros animais.
Em ciência, sempre lidamos com probabilidades. Por isso temos, antes de um medicamento ou vacina chegar à população, uma série de etapas bem rigorosas quanto à segurança durante os testes em humanos. E antes disso, toda uma discussão em comitês de ética e científicos de quais produtos e tecnologias podem ser usadas e testadas visando diminuir a possibilidade de acidentes ou fenômenos inesperados e indesejados.
Sendo assim, em se tratando de uma vacina de vetor viral não replicante, a chance tende a zero de haver algum tipo de evento recombinante do vetor na natureza.
Curiosamente nas últimas semanas vimos a rigidez dessas normas quando a nossa respeitada agência sanitária, a ANVISA, não liberou a Sputnik V exatamente pela possível presença de vetores virais replicantes.
Se por um lado o risco das vacinas de vetores virais não replicantes se recombinarem na natureza tende a zero, não podemos falar o mesmo do risco de recombinação do próprio SARS-CoV-2. Deixar uma epidemia descontrolada faz com que essa chance se torne algo real e possível. E a melhor solução pra isso é vacinar a população.
Antes que alguém pergunte sobre tempo em relação a efeitos colaterais, em quanto tempo é seguro para se identificar possíveis efeitos colaterais de uma vacina, a reposta é: pouco tempo. Os antígenos virais contidos nas vacinas são metabolizados e destruídos em pouco tempo (horas ou poucos dias) e a resposta imune adaptativa que seria capaz para uma reação auto-imune demora entre 2 a 4 semanas para se manifestar. Sendo assim, efeitos colaterais muito raros (como tromboses ligadas à vacina da AstraZeneca) apenas aparecem com uso de centenas de milhares de pessoas. E não tem relação a grande tempo de exposição. Mesmo um evento dessa natureza (estimado em 1:350.000) é 3 vezes mais raro que uma morte por anestesia em uma cirurgia plástica para implante de próteses de silicone em mamas - apenas para dar um exemplo e estabelecer uma ordem de grandeza.
Não há nada melhor que vacinar a população para conter uma epidemia. AS VACINAS EM USO SÃO SEGURAS E EFICAZES."
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