Não é pouco complexa a iniciação do juremeiro.
De costumes mais antigos como o TOMBAMENTO em que o iniciado tombava sob a força de beberagens entre as quais uma feita com a própria jurema, o iniciante chegava a um estágio limiar entre a vida e a morte.
Assim "desacostada" do corpo, a alma passeava num percurso por cidades e reinados espirituais em busca de um guia com quem retornasse à matéria.
O futuro juremeiro Batista no dia da sua iniciação, nos conta da sua experiência.
Houve um tempo em que tudo se dava num ambiente semelhante aqueles onde as rezadeiras e carpideiras tão nossas conhecidas oravam e cantavam por dois, até três dias, ajudando na passagem de um moribundo ou clamando pelo seu retorno. De tais viagens no tombamento muitos nunca voltaram para os seus mestres!...
Saudável e inteligentemente, a religião migrou para novas formas iniciáticas, entre as quais a que apresentamos hoje.
O nosso entrevistado, Batista, traz no nome a essência da travessia e se da a batizar, inicialmente num ritual onde apenas as gentes da Jurema se fizeram presente e onde, após oferenda ao Rei Malunguinho, entidade presente nas matas a quem se deve o pedido de licença e oferenda de sangue animal para adentrar e de lá levar fragmento do tronco da Jurema onde o guia espiritual do novo guia habitará.
Realistas, os membros do culto à Jurema já não se expõem aos perigos desnecessários em terras violentas. Atualmente, o iniciado volta ao terreiro onde é lavado em banho de ervas em maneira batismal tão nossa conhecida.
Ali, como no passado judeu-cristão, animais são sacrificados e o seu sangue, símbolo de força e energia, conferirá sacralidade ao tronco sagrado e aos demais apetrechos rituais que um dia pertenceram à vida material do guia.
A mesa de consagração, momento solene, é o passo seguinte e consiste na apresentação do iniciado a uma roda em que comparecem guias espirituais e em que ele se presentifica como um guia, um mestre, vivo.
Assim se dá a iniciação de um juremeiro.
Helenita Monte de Hollanda