O genocídio em Gaza, perpetrado pelas forças israelenses, está mudando fundamentos da prática jornalística. É a visão da jornalista Hoda Osman, editora executiva da Arab Reporters for Investigative Journalism e presidenta da Arab and Middle Eastern Journalists Association. “O que se aprende nas escolas de jornalismo foi demolido”, diz ao TUTAMÉIA. Nesta entrevista, ela relata a rotina dos profissionais que enfrentam a fome, a sede, a insegurança, o bombardeio, a morte.
Nunca na história tantos jornalistas foram mortos em coberturas. São muito mais de 100. Mais do que na Segunda Guerra Mundial, mais do que na Guerra do Vietnã. Os jornalistas se enxergam como alvos da máquina de guerra de Israel. Muitos tiveram familiares assassinados. Temem usar seus coletes de identificação E há um silêncio dos meios de comunicação em torno disso.
Hoda Osman fala do que está mudando no jornalismo a partir de outubro do ano passado:
“Na questão ética, se fala da distância do jornalista dos eventos que está cobrindo. Como se faz isso quando não há outros jornalistas além dos jornalistas que estão sofrendo as circunstâncias daquilo que estão cobrindo? Isso mudou. Segurança. Vamos a esses encontros em que se fala da segurança dos jornalistas, que se deve fazer isso, fazer aquilo. Mas não há nada que os jornalistas possam fazer para ficar em segurança em Gaza. Eles se preocupam em usar os coletes que os identificam como jornalistas porque temem ser mortos [justamente por isso]. Midia social. Eles reúnem essas informações brutas e sem filtro _fotos e vídeos do que está acontecendo. Não podemos dizer que voltaremos atrás na forma de fazer jornalismo: ler os relatos, escolher as entrevistas e ordenar o material _e que essa será a única forma de saber o que aconteceu. Definitivamente, o uso das mídias sociais agora faz parte da forma essencial de entendimento das nuances e complexidades dos eventos, não importa quais eventos, se são guerras ou não. É preciso ver o que está acontecendo nas mídias sociais e no material bruto que aparece nela”.
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