Hoje, acabo de finalizar a mixagem de um novo CD, "Um Berimbau e Dois Pandeiros", uma homenagem ao estilo distintamente simples e poderoso de Mestre Bimba. O caminho para este novo CD, e minha relação com meu antigo mestre, não é direto e estreito. Deixe-me começar com uma analogia. Recebi esta pergunta em um e-mail recente e irei respondê-la antes de partir para o Brasil. Pergunta: Por que você não ensina da mesma forma que Mestre Bimba ensinava e por que você não grava cantando como ele? - Meu fascínio pelo berimbau começou há cerca de 40 anos. Não me lembro como aconteceu, mas, de repente, o berimbau passou a fazer parte do meu dia a dia. Algum tempo depois, fiquei descontente com a construção do berimbau e, não tendo certeza de apenas uma cabaça, tentei fazer um berimbau com duas delas. Então, não satisfeito com o arco apertado por apenas um fio de aço, tentei três cordas. Por fim, desconfiado da simples corda de papel manilha que segurava o fio de aço esticado, experimentei a precisão de pinos de violino e teclas de violão, terminando finalmente com um cone de afinação feito sob medida pelo Sr. Ariosto - um torno mestre com uma oficina perto de onde Gigante costumava fazer atabaques para o afoxé, Filhos de Gandhi. Os anos se passaram, e depois de muitas tentativas complicadas de aperfeiçoar o berimbau, voltei ao original: um arco de madeira de beribá em sua elegância simples. - Tenho a estranha sensação de que uma experiência semelhante aconteceu com a minha capoeira. Anos atrás, comecei a me incomodar com a formação na escola do Mestre Bimba. Comecei a analisar as aulas, a prática das sequências e o tipo de jogos que jogávamos. Fiz isso com extrema diligência, registrando o número exato de vezes que treinamos cada movimento na aula. Comecei a criar um novo método de treinamento - uma espécie de berimbau com três cordas e duas cabaças. Muito depois, percebi que minha tolice estava transformando o sistema de treinamento em uma pálida imitação do Tae Kwon Do, produzindo uma estética muito diferente do que havia aprendido no Centro de Cultura Física Regional, a escola do Mestre Bimba. Essa perceção me surpreendeu. A partir daí, tive o cuidado de não me entregar a ideias de embelezar, melhorar, ou tornando a capoeira “mais eficiente” ou “mais moderna”. Da mesma forma, evitei forçar a capoeira a uma forma de arte afro-brasileira “mais tradicional” e politicamente correta. - Em minha jornada na capoeira, muitas vezes me perguntam por que não ensino da mesma forma que meu mestre. Sempre respondo que não tenho o carisma de Mestre Bimba, muito menos sua capacidade de ensinar de forma marcadamente característica. Sinceramente, acho que fiquei inibido de ensinar "Capoeira Regional" enquanto seu criador ainda estava vivo. E, como seus contemporâneos, Bimba não pediu aos seus formados que ensinassem capoeira em seu nome, nem que criassem escolas afiliadas identificadas por logotipos coloridos. Em seu estilo evocativo de ensino, Bimba inspirou minha própria tentativa de desenvolver novas abordagens e posturas de ensino. Essa iniciativa se mostrou fundamental para o meu desenvolvimento pessoal, tanto na capoeiragem quanto na vida real. No entanto, nunca deixei de recorrer aos modos alegres e desafiadores dos ensinamentos de Mestre Bimba. - Alguns dias atrás eu estava pronto para gravar um novo CD com meus alunos. Pouco antes da sessão, deixei cair minha cabaça favorita, arrancando um grande pedaço de sua barriga que precisava ser colado de volta. Possui agora uma longa cicatriz circular no corpo antigo, o que lhe confere mais dignidade e caráter. Mesmo assim, considerei o acidente um mau sinal e adiei a gravação para outro dia. Este CD será minha décima gravação musical, sem contar DVDs, trilhas sonoras e outros projetos em que usei o berimbau. Em várias dessas gravações, eu insinuei a música regional de Bimba sem agradar inteiramente meus amigos que pediram uma gravação completa no estilo de Mestre Bimba. Na verdade, não me considero - nem a ninguém - competente para gravar tal CD exclusivamente à maneira do Mestre, porque testemunhei de perto a força extraordinária que ele conseguiu gerar. Além disso, sua própria obra-prima, Curso de Capoeira Regional - gravado nos anos 60 - constituiu um momento histórico para a capoeira, consagrando Bimba como um vocalista e músico consumado. Portanto, não serei eu que tentarei imitá-lo! - Mas resolvi gingar um pouquinho nessa roda. Assim como redescobri a sabedoria de Bimba como mestre de capoeira, e como redescobri a sonoridade e a pureza da forma popular do berimbau, reencontrei a força incomparável da música de Mestre Bimba depois de quase meio século. Em homenagem, Um Berimbau e Dois Pandeiros contará com apenas um berimbau, dois pandeiros e vocais à maneira única da verdadeira Capoeira Regional: a Capoeira de Bimba.
Fonte: capoeirabymestreacordeon.blogs...
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