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As neuroses são formas de ser e estar no mundo, na linguagem, são estruturas de personalidade, não são doenças, assim como a psicose e a perversão. São um modo de relação consigo mesmo e com o outro e de leitura subjetiva do que acontece no mundo a sua volta.
As neuroses trazem limitações, pois nos impedem de amar e trabalhar, porque são excessivamente cheias de impedimentos, obstáculos, defesas, medos, recuos e evitamentos em relação ao desejo, inclusive.
Os neuróticos colocam sempre seu eu, suas defesas em primeiro lugar e não seu desejo; eles temem o desejo, porque esse é do campo do risco e da incerteza. Lugar no qual, eles têm que abrir mão do controle, do cálculo, do domínio e da exatidão como garantia.
As neuroses são, também, uma forma de covardia e de evitar os conflitos, pra permanecer numa condição dita confortável, sem erros, sem falhas, sem imprevitos e sem enfrentamentos. Embora não sejam doenças, patologias, são formas de lidar com as questões da vida e acabam por trazer prejuízos, como angústias, dores, ansiedades e sintomas físicos e emocionais, porque travam o paciente e esse se vê impossibilitado de realizar muitas coisas e de sentir prazer.
A angústia expectante é queixa frequente dos neuróticos, aquela tensão “de algo vai acontecer e eu preciso estar preparado”, uma sensação desgastante de alerta constante, de aperto no peito, assim como a queixa de que se sentem sempre errados, inadequados e em dívida com o outro. Sempre imaginando cenários, hipóteses, possibilidades e situações que se quer aconteceram, mas que também, geram muito sofrimento reduzindo as capacidade de amar, de trabalhar e de aproveitar e de viver a vida, como ela é. Não plena, mas cheia de sabores e dissabores.
É como se os sujeitos se vissem vivendo uma vida aquém daquela que poderiam viver, assolados por dúvidas, inseguranças, sintomas, restrições, repetições e sofrimento causados para si e também, isso acaba se configurando em formas de infligir sofrimento ao outro. Por isso, as relações, não invariavelmente, são permeadas por dificuldades, distâncias, frieza ou uma colagem, uma dependência.
Há outra questão que também fica muito marcada nas neuroses: a crueldade. Por serem muito exigentes consigo mesmos, e, também, com o outro, têm a culpa como companheira fiel, de todo dia e de longo data que faz com que o paciente se perceba sempre nessa posição, de condenado, culpado e merecedor de punição. Como se esperasse sempre a avaliação de desempenho negativa que venha de fora ou então confirmações de que o que ele faz está certo. Bem como um desejo de que o outro seja como ele, não suportando as diferenças.
Numa fantasia de viver num mundo perfeito, desinfectado, limpo e organizado, assim como no funcionamento das sua planilhas e planejamentos, o neurótico acaba por sofrer também porque não quer perder nada e almeja tudo acontecendo de acordo com suas ideias.
Numa análise, nas sessões com um Psicanalista se aprende sobre o próprio funcionamento subjetivo, psíquico e se fica advertido quanto a isso, podendo tomar decisões frente a recuos ou investidas que antes não se conhecia, deixando a alienação, o desconhecimento. Tornando consciente o que é inconsciente, desconhecido.
Uma boa análise caminha na direção de um deciframento dos sintomas, dos significantes que rondam e muitas vezes determinam a história do paciente e aquele que estiver interessado nesse processo, passa a compreender porque repete determinadas atitudes e se coloca em determinadas situações de armadilha, que tem tudo pra dar errado, e pode começar a fazer diferente.
No trabalho analítico, o paciente vai sendo levado a falar e a se ouvir, a contar e recontar sua história, para que na relação transferencial com o Analista, algo se produza de novo, algo se modifique, se transforme e a narrativa se torne outra. Isso porque a forma como falamos sobre o que nos faz sofrer, altera a forma como sofremos.
O paciente passa do desejo de reconhecimento para o reconhecimento do próprio desejo, deixa de ser falado, para falar, abre mão de alguns sintomas pela criação, pela coragem, ousadia de bancar e sustentar aquilo que deseja.
Uma análise promove uma marca, um conhecimento de si que transborda em singularidade, autenticidade e potência de decisão e de realização.