Poema do Menino Jesus (Alberto Caeiro FP) por Antonio Abujamra.flv

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Marco Paschoal

Marco Paschoal

12 жыл бұрын

Num meio-dia de fim de primavera
Eu tive um sonho, como uma fotografia.
Eu vi Jesus Cristo descer à terra.
Ele veio pela encosta de um monte,
tornado outra vez menino,
a correr e a rolar-se pela erva
e a arrancar flores para as deitar fora
e rir de modo a ouvir-se de longe.
Ele tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
de segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
com flores e árvores e pedras.
No céu, Ele tinha que estar sempre sério
e de vez em quando de se tornar outra vez homem
e subir para a cruz.
Estar sempre a morrer
com uma coroa toda à roda de espinhos
e os pés espetados por um prego com cabeça,
e até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas,
um velho chamado José, que era carpinteiro.
Não era pai dele;
o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo.
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala em que
ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
e nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
e o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
e deixou-o pregado na cruz que há no céu
e serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje Ele vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso natural.
Ele limpa o nariz no braço direito,
Ele chapinha as poças de água,
Ele colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
rouba fruta dos pomares
e foge a chorar e a gritar dos cães.
E porque sabe que elas não gostam
e que toda a gente acha graça,
Ele corre atrás das raparigas
que vão em ranchos pelas estradas
com aquelas bilhas nàs cabeças
e levanta-lhes as saias.
A mim [...] ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
quando a gente as tem na mão
e olha devagar para elas.
Depois cansado, o menino Jesus adormece nos meus braços.
Levo-o ao colo para dentro de casa
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
Damo-nos tão bem um com o outro
na companhia de tudo,
que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos, os dois com um acordo íntimo
como a mão direita e a esquerda.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens.
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ele ri dos reis e dos que não são reis,
e tem pena de ouvir falar das guerras,
dos comércios, da violência e dos navios
que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que a tudo isso falta àquela verdade
que uma flor tem ao florescer
e que anda com a luz do sol
a variar os montes, vales,
fazem doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
e como seguindo um ritual muito limpo
e todo materno até ele estar nu.
Ele adormece dentro da minha alma
e às vezes acorda de noite
e brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
põe uns em cima dos outros
e bate as palmas sozinho
sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
e leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
e deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
que tu sabes qual é.
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba,
não há de ser ela mais verdadeira
que tudo quanto que os filósofos pensam
e tudo quanto as religiões ensinam!
Sobre o autor: Alberto Caeiro
Heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é considerado como o Mestre Ingênuo de suas múltiplas personalidades poéticas. É ligado à natureza, que despreza e repreende qualquer tipo de pensamento filosófico.

Пікірлер: 78
@medicosincero8276
@medicosincero8276 8 күн бұрын
2024 escutando um gênio recitar um outro gênio.
@nunobrito9285
@nunobrito9285 2 жыл бұрын
Este é o poema mais lindo do Alberto Caeiro. Só por este poema Fernando Pessoa mereceria estar no rol dos grandes poetas da humanidade...
@lig_in_lab575
@lig_in_lab575 10 ай бұрын
Muito lindo
@AlessandroSouza-kl9wj
@AlessandroSouza-kl9wj Ай бұрын
Alessandro de Souza Baeta Neves axé
@cauehsalzedasteixeira402
@cauehsalzedasteixeira402 2 жыл бұрын
Eu choro toda vez que leio/ouço esse poema.
@lig_in_lab575
@lig_in_lab575 10 ай бұрын
Também, é incrível o efeito deste poema em mim!
@joaoviniciusbrito3355
@joaoviniciusbrito3355 Жыл бұрын
Todo natal ouço. Hj mais uma vez! Espetacular.
@dantzor
@dantzor 9 жыл бұрын
Vá em paz, Abu. Fará muita falta para a TV brasileira.
@hrgalvao
@hrgalvao 2 жыл бұрын
No final parece que ele se emociona de verdade.
@emailmeu4326
@emailmeu4326 2 жыл бұрын
Da pra vê nos olhos dele
@Mur489
@Mur489 Жыл бұрын
O final foi de arrepiar.
@luizclaudioalvesfontes5001
@luizclaudioalvesfontes5001 Жыл бұрын
Eu também percebi. Saudações ...
@renanpinto1933
@renanpinto1933 8 ай бұрын
Foi a única vez que eu vi Abujamra chorar. Chorei junto.
@llincka
@llincka 4 жыл бұрын
Grande Abujanra e grande Fernando Pessoa!
@lucianasantos3884
@lucianasantos3884 Жыл бұрын
Amo vc❤️
@RicardoTiamat
@RicardoTiamat 11 жыл бұрын
Beleza tão simples que precisa de olhos tão instruídos.
@cinepovero2009
@cinepovero2009 10 жыл бұрын
De facto, Laís Rezende tem razão. A parte do poema que se segue a "Diz-me muito mal de Deus" causa também alguns engulhos em Portugal. Existe porém uma belíssima leitura deste poema, pelo actor português Pedro Lamares, com todas as palavras no seu lugar. Basta digitar no KZfaq o nome dele e Menino Jesus. Antes de ler o poema, Pedro Lamares refere também a discriminação de que este poema é alvo em Portugal.
@regis8409
@regis8409 4 жыл бұрын
Feliz aniversário meu Jesus...
@luizclaudioalvesfontes5001
@luizclaudioalvesfontes5001 Жыл бұрын
Isso me alimenta, mata minha sede... Necessito comer e beber um pouco de Fernando Pessoa, todo dia...!
@alexteixeira147
@alexteixeira147 5 жыл бұрын
Jesus é HUMANO! E só cabe a cada um encontrar o seu próprio Cristo, não podemos delegar está tarefa a nossa Religião. Ela pode com muita boa vontade nos auxiliar a encontrá-lo em nosso interior. Sempre Abujamra... E Fernando Pessoa??? Que falar...
@cesarc5930
@cesarc5930 Жыл бұрын
Que lindo!
@luizclaudioalvesfontes5001
@luizclaudioalvesfontes5001 Жыл бұрын
Sublime...! Me faz querer ser melhor.😇
@Fadini72
@Fadini72 11 жыл бұрын
O renascer de um deus, de um homem, de um menino.
@Here_is_Jhonny
@Here_is_Jhonny 5 жыл бұрын
lindo sermao sermao lindo
@carloseduardodeassisferrei978
@carloseduardodeassisferrei978 2 жыл бұрын
Lindo demais!
@tiag0parma
@tiag0parma 3 жыл бұрын
Esse é maravilhoso, genio, FP gênio
@Mur489
@Mur489 Жыл бұрын
Lindo !!!!
@sheylachaves1201
@sheylachaves1201 8 жыл бұрын
Extasiada!!!Muito obigada por essa jóia!!!
@willianuilham3419
@willianuilham3419 8 жыл бұрын
Fantástico, mesmo incompleto.
@angeloalberto4180
@angeloalberto4180 5 жыл бұрын
Abu amo vc mestre
@Deniseveras1
@Deniseveras1 11 жыл бұрын
Uma concepção corajosamente bela.
@isacjunior-esf4108
@isacjunior-esf4108 7 жыл бұрын
Siiim...
@joaoeduardobueno379
@joaoeduardobueno379 5 жыл бұрын
Que saudades do Abu.....
@leleteles
@leleteles 7 жыл бұрын
estou farto de faces selfies, do riso sélfico e dos dentes brancos dessa gente vaidosa sempre a fazer caretas como se esboçasse sorrisos. como se um esgar de boca fosse sinal de felicidade. aliás, desconfio de todos que tentam exibir sinais artificiais de felicidade. o monge é feliz em seu silêncio, são felizes os santos que curam as infelicidades alheias. vivemos em tempos trevosos: assassinam-se mulheres, estupram-se crianças, roubam-se os sonhos da juventude... e o selfish sorri vaidoso como se nada fosse com ele. viajam não para conhecer as pessoas que vivem no mundo, para interagir com as alegrias e tristezas que fazem de nós outros pessoas humanas. viajam para mandar fotografias de lugares, prédios, torres, castelos e até de muros e muralhas. outrora, essa gente vaidosa recorria aos feiticeiros de aldeia em busca de uma mentira que lhes desse conforto. muitos passaram a acreditar em vidas passadas para compensar suas medíocres vidas presentes. os feiticeiros de aldeia, jogando búzios, cartas, olhando para uma bacia d'água ou para uma bola de cristal tinham sempre o texto certo para esses infelizes sorridentes: tivera uma vida brilhante, foste um príncipe virtuoso e muito amado, e era dado a ser generoso com os humildes. diziam para uns. para outras diziam ainda: viveste como uma rainha, pétalas vermelhas caíam pelo caminho sempre que tu passavas arrastando um vestido longo de uma seda tão pura que lhe dava ares angelicais. os tempos mudaram, as aldeias cresceram, viraram cidades, as cidades viraram metrópoles, se conurbaram e surgiram novos feiticeiros. uns, no púlpito, a prometer uma vida maravilhosa no futuro, após a morte. outros pedem ofertas e orações para se conquistar a tão sonhada felicidade das coisas, dos objetos, das tralhas fúteis na vida presente. é dando que se recebe. e ainda há os que recorrem a placêbicos aplicativos: veja que cidade mais se parece com você. aí você clica e aparece a suíça, a dinamarca, a suécia... nunca sai gabão, ceilão ou afeganistão. veja que celebridade mais se parece com você: aí surgem modelos magérrimas, homens musculosos, casais tomando champanhe num iate... estou farto das pessoas que se envergonham de suas lágrimas, de seus finais de semana solitários, da fossa existencial, da comida na mesa que não está tão bonita mas está saborosamente rica, da falta de grana para fechar o mês, da falta de amor e de abraços sinceros. mesmo que freud tenha dito que é uma característica imanente do homem social a eterna luta para se livrar da dor e do mal estar que a civilização lhe causa, é covardia achar que você é feliz tentando enganar os outros com uma pseudo e sélfica felicidade. para mim há uma só verdade: não há nada mais sincero que o riso largo de um banguelo. palavras sapienciais.
@gabo3color
@gabo3color 3 жыл бұрын
Que isso tem a ver com o poema?
@carteiro0
@carteiro0 3 жыл бұрын
@@gabo3color Vai saber, o cara transcendeu.
@linaldonilo847
@linaldonilo847 3 жыл бұрын
Sei bem o que é isso meu amigo. Vejo um monte de gente postando uma felicidade falsa, porque conheço todos eles muito bem.
@alinedeboleto
@alinedeboleto 2 жыл бұрын
ma-ra-vi-lho-so!
@adeiltonsouza416
@adeiltonsouza416 6 жыл бұрын
Boa noite
@jonasmoesch8956
@jonasmoesch8956 11 жыл бұрын
2 seres superiores...
@sheylachaves1201
@sheylachaves1201 8 жыл бұрын
Quero o poema completo.
@torto2e10
@torto2e10 10 жыл бұрын
ouvi junto com Queens of the stone age - make it chu, fica massa!
@sheylachaves1201
@sheylachaves1201 8 жыл бұрын
ENCONTEI O POEMA INTEIRO NA VOZ DE ANTONIO ABUJANRRA
@canseidesersexy308
@canseidesersexy308 2 жыл бұрын
*Onde?*
@modelandomassa5021
@modelandomassa5021 3 ай бұрын
Lindo👏🏽👏🏽🥲
@JoeFreitasLindo
@JoeFreitasLindo 9 жыл бұрын
O poema està incompleto!....Penso que por causa do "preconçeito".Beijos.
@lis.lislima
@lis.lislima 9 жыл бұрын
Mesmo incompleto é fantástico!!!
@laurasalgueiro100
@laurasalgueiro100 6 жыл бұрын
Maria Bethânia m
@poetaantoniomilitao7231
@poetaantoniomilitao7231 6 жыл бұрын
Maria Bethânia kzfaq.info/get/bejne/a95-qrmltNS9YoU.html
@flagrasparanagua
@flagrasparanagua 5 жыл бұрын
Tudo é preconceito. PQP
@731constantine
@731constantine 10 жыл бұрын
ele errou no final, pulou uma estrofe xD
@731constantine
@731constantine 10 жыл бұрын
claro... nao tira o merito !
@aivliSamiL
@aivliSamiL 7 жыл бұрын
poema editado para caber dentro de um tempo razoável em tempos digitais apressados.
@naynarasouza7099
@naynarasouza7099 3 ай бұрын
Fernando Pessoa destrói a família de Jesus. Nossa Senhora e São José. Como modernista e ateu tentando retirar a divindade de Jesus e sua família.
@aleciogt1
@aleciogt1 Жыл бұрын
Ele era Ateu!!
@Oswaldoo
@Oswaldoo Жыл бұрын
Provocação cristofóbica.
@camilavenancio549
@camilavenancio549 4 жыл бұрын
Nossa que poema ridículo. Blasfêmia pura!!!
@Luiz1020
@Luiz1020 4 жыл бұрын
Na sua limitada e ditatorial opinião. Para mim o poema é lindo e carinhoso com o que deveria ser o verdadeiro Jesus e olha que não sigo nenhuma religião. E na inesquecível interpretação do Abujamra, o poema fica mais emocionante ainda. Mas vá em paz Camila!
@jcboladao23
@jcboladao23 4 жыл бұрын
Então somos dois, eu e Camila, a termos uma opinião limitada e ditatorial, pois endosso o fato desse poema ser ridículo o uma total blasfêmia! Sinto dó das pessoas que desconhecem o verdadeiro sentido de Cristo e saem por aí, aplaudindo toda a sorte de heresias cometidas contra Ele, como esta porcaria de poema. 🙁
@Luiz1020
@Luiz1020 4 жыл бұрын
@@jcboladao23 Você deve ter o coração duro e frio, o que Cristo não tinha. Estranho que noto isso em pessoas que acham que encontraram a Luz e que todos os outros não. Cristo o verdadeiro, não o seu, amava as pessoas mesmo com seus defeitos, ou seja, era mais próximo do Cristo do poema. Mas o que posso dizer sabendo que não vai entender, só posso acrescentar o que falei para a Camila. Vá em paz, Jairo.
@carlosneiortuzarferreira8060
@carlosneiortuzarferreira8060 4 жыл бұрын
O poema é belíssimo, estupendo!!! Um dos mais lindos com o qual já tive contato... não a toa escrito por ninguém mais ninguém menos que Fernando Pessoa.
@Luiz1020
@Luiz1020 4 жыл бұрын
@@carlosneiortuzarferreira8060 O poema é terno e emotivo. Pessoa e Abu, parabéns aos dois.
Não sou nada...
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