“A televisão está tão medíocre que é difícil eleger o pior”. Conhecido como o repórter descobridor da madrugada de São Paulo, Goulart de Andrade fala ao Provocações sobre o seu trabalho: “Eu tenho o privilégio de encarar o que eu faço como ofício, não como profissão”. Goulart, atualmente na TV Gazeta, fala sobre o surgimento do seu famoso bordão, que também dá nome ao programa: “existia uma danceteria na Zona Leste, e eu entrei com a intenção de mostrar toda a estrutura da discoteca num plano sequencia só. Então eu dizia para o Capeta [câmera] a toda hora ‘vem comigo’. Quando olhei na edição eu vi que isso tinha força e deu sorte”. Repórter que ficou famoso pela criação do Comando da Madrugada na década de 1980, Goulart diz: “eu descobri a densidade demográfica dessa cidade das 0:00 às 06:00, era a terceira cidade em população do país. [...] E foi ai que comecei a querer fazer umas matérias no intervalo dos filmes”. Fala ainda sobre as principais diferenças entre a noite paulista de hoje: “até a data que eu construí o Comando da Madrugada existia a boemia. Hoje são outros caminhos, caminho da droga, caminhos pobres” e “hoje não tem mais a madrugada, a matéria-prima madrugada em São Paulo não é mais a mesma coisa. Há muito tempo eu diversifiquei a minha conduta e a minha matéria-prima. Hoje a garotada vai atrás daquilo que eu fiz há 30 anos atrás, mas não necessária e exclusivamente na madrugada”. Conhecido também por entrar na pele dos personagens que busca, Goulart conta “pra você extrair uma intimidade, eu criei uma coisa chamada ‘na pele do lobo’. Fui mostrar como funcionava um circo, me vesti de palhaço. Eu queria mostrar esse ser humano, que era o travesti, eu tive que me misturar a eles”.
Antônio Abujamra lê Eugene Delacroix.